quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A fraseologia ligada aos conceitos de vida e de morte no dicionário bilingue:





M. Celeste Augusto
Universidade de Utreque
M.C.vanEgmond@uu.nl

0. Introdução
Nas últimas décadas, os trabalhos de John Sinclair abriram um novo rumo à
lexicografia, quer monolingue quer bilingue. Presentemente, o dicionário bilingue já não se
pode reduzir a listas de palavras: à esquerda, em coluna, a palavra da língua de que se parte,
seguida pelo rol de prováveis equivalentes na língua de chegada. Isto porque, como Moon
(2008) diz, Sinclair mostrou com eficácia, ao longo dos seus textos, que as palavras se
interligam, não vivem isoladas e que o seu significado é gerado no e pelo contexto em que se
inserem. Para Sinclair, é pela e na combinação das palavras que se alcança o significado
destas, sendo ‘collocation’, enquanto “the frequent and significant co-occurrence of two or
more words within a textual environement” (Williams (2008: 259), a palavra chave. Com
esta ideia em mente, dispusemo-nos a considerar, em paralelo, algumas estruturas formadas
por mais de um elemento lexical, servindo-nos para esse fim de um dicionário bilingue bidireccional.
Como objecto de trabalho escolhemos o Dicionário Neerlandês/Português e
Português/Neerlandês (2004) que, para além de ter dado uma grande importância ao registo e
tradução deste género de estruturas, exemplifica vários tipos de registo lexicográfico, em
parte resultantes da especificidade de cada uma das línguas em questão. A selecção de
estruturas linguísticas formadas por vários componentes (proverbiais, comparações fixas,
locuções, etc.) e o seu registo num dicionário nunca foram nem serão um tema pacífico da
lexicografia, particularmente da bilingue, como adiante se verá.
Nesta exposição, propomo-nos tratar de alguns aspectos da fraseologia que veicula
um conteúdo semântico decorrente dos conceitos de vida e de morte, em português e em
neerlandês. Como são conceitos multifacetados, originam uma gama enorme de segmentos,
que vão dos que se apresentam semanticamente transparentes, do tipo morrer aos poucos, aos
mais opacos como ser letra morta, passando ainda por aqueles que, para além de obscuros, se
apresentam bizarros como morrer de morte macaca. Estes últimos, expoentes específicos do
sistema que representam, são, por este mesmo motivo, os que maior problema levantam na
selecção de um equivalente na passagem de uma língua para outra. Sendo vários os verbetes e
longas as micro-estruturas que concernem os dois conceitos apurados, optaremos por uma
análise dos segmentos que se apresentem mais pertinentes do ponto de vista quer
lexicográfico, quer semântico. Assim, abordar-se-ão sequências linguísticas do género: à boa
vida; cair na má vida; pensar na morte da bezerra; um silêncio de morte; estar morto e
enterrado; zijn leven hangt aan een zijde, in levende lijve, doodgaan van de kou, duizend
doden sterven, cujos equivalentes são em português [tem a vida presa por um fio], [em carne
e osso], [ estar a morrer de frio] e [morrer de medo] respectivamente.
Considerando que um estudo contrastivo visa salientar não apenas diferenças mas igualmente
semelhanças, o nosso objectivo será, através de uma abordagem de tipo contrastivo, pôr em
paralelo um elenco significativo de enunciados do português e do neerlandês, a fim de se
verificar:
1- se as sequências portuguesas assinaladas têm equivalente em neerlandês e vice versa
e, em caso negativo, ver a solução adoptada pelo redactor
2
2- se, entre as sequências portuguesas e as neerlandesas, há semelhanças ou diferenças
ao nível do seu registo lexicográfico e do seu conteúdo semântico.
Uma vez que se trata de duas línguas de origem muito distinta e servindo comunidades
diferentes em muitos aspectos mas sobretudo sócio-culturais, prevêem-se, consequentemente,
algumas diferenças significativas quer ao nível da estrutura quer ao nível semântico. A
comunicação será organizada do seguinte modo: após a Introdução serão feitas algumas
considerações breves de carácter teórico e metodológico e será delimitado o objecto em
análise para, de seguida, se proceder a uma análise contrastiva das sequências seleccionadas.
Algumas reflexões concluirão o trabalho. Como ilustração do exposto inserir-se-ão sob a
forma de anexo alguns exemplos de verbetes.
1. Enquadramento teórico-metodológico
Como se sabe a micro-estrutura de qualquer dicionário de língua oferece informação,
de um modo geral, relativamente a três níveis: ao da forma, ao do significado e ao do
contexto, sendo este último, no dizer de Fraser (2008:71), de dois tipos - extra-linguístico e
intra-linguístico. No último caso, a informação é dada no eixo sintagmático e através das
estruturas formadas pelo segmento em análise e pelas palavras que o acompanham. A
exposição que pretendemos apresentar insere-se neste terceiro nível e, mais concretamente,
aborda os segmentos com mais de um componente. Estes têm sido objecto de uma série de
definições, sendo difícil escolher uma que inclua todos os seus traços definidores. Todavia,
quase todas assentam no seguinte: são sequências plurilexicais, fixas ou semi-fixas, se bem
que os seus constituintes possam ser pluri-semânticos elas não o são e o seu significado
decorre não da soma do significado individual dos seus componentes mas do seu concerto.
Em certos casos, pode haver uma determinada variação lexical1, desde que o sentido global
não seja modificado. Corpas Pastor (2003, p. 131) define, grosso modo, estas estruturas como
uma combinação de pelo menos duas unidades lexicais, caracterizada por uma alta frequência,
institucionalizada, fixa e estável, semanticamente especializada e potencialmente idiomática
e dá-lhes o nome de fraseologismo (FRA) ou unidade fraseológica (UFR). Na linha de
Corpas Pastor e doravante, empregar-se-á esta nomenclatura e entender-se-á por fraseologia
quer o conjunto de fraseologismos de uma determinada língua quer o ramo da linguística que
trata deste tipo de construções.
Muito embora por vezes se empregue ‘abordagem contrastiva’ e ‘abordagem
comparativa’ para salientar as diferenças e as semelhanças respectivamente, uma tal distinção
não nos parece operante2. Julgamos que uma análise de tipo contrastivo de dois sistemas
linguísticos implica o salientar quer de diferenças quer de semelhanças, até porque é
geralmente a partir do semelhante que o diferente melhor se manifesta (Augusto, no prelo).
Posto isto, a análise que a seguir se apresenta vai seguir um modelo contrastivo
(Dobrovol’skij, 1998; Fisiak, 1980, 1984), tendo em vista o objectivo proposto e acima
indicado. Além do mais, decidiu-se incluir nesta análise algumas UFRs construídas sobre os
verbos viver e morrer, ligados semanticamente aos conceitos de vida e de morte, mas
excluiram-se modismos, que são de carácter passageiro, e locuções interjectivas como ‘ora
viva!’ou ‘leve de koningin!’ [Viva a rainha!] de forte feição discursiva.
2. Função do fraseologismo no dicionário bilingue
1 Cf. ‘fazer / dar para as despesas’.
2 Malmkjaer (1999) diz que esta distinção é habitual.
3
Mesmo que o dicionário bilingue não seja de tipo pedagógico, impõe-se o registo de o
maior número possível de UFRs, para se poder apresentar os diferentes sentidos de uma
unidade lexical e, se se conseguir ilustrar o fraseologismo com um exemplo, melhor ainda.
Como anteriormente se afirmou, é apenas no convívio com outras palavras que os
significados se geram. O dicionário bilingue bi-direccional, de onde se extraíram as UFRs a
serem analisadas, dá, repetimos, uma particular atenção ao seu registo e equivalência, na
medida em que foi elaborado partindo de bases de dados concebidas para a produção de
dicionários bilingues, ou seja considerando o seu uso contrastivo. Por um lado, como se trata
de duas línguas geneticamente diferentes, houve ainda um especial cuidado em ilustrar certas
construções, diferentes de uma língua para a outra, com um exemplo, como ‘doodgaan aan
kanker’ e ‘doodgaan van honger’ cujos equivalentes são ‘morrer de cancro’ e ‘morrer de
fome’, respectivamente. Por outro lado, sabendo-se que é através da fraseologia que as
singularidades de uma língua e a maneira de pensar de uma comunidade melhor se reflectem,
é natural que qualquer verdadeiro dicionário bilingue se esforce por incluir estes enunciados
e por dar-lhes um possível equivalente na língua com que emparceira.
3. Análise contrastiva de fraseologismos portugueses e neerlandeses ligados aos
conceitos de vida e de morte
Passa-se a fazer a análise de algumas UFRs inseridas em quadros para facilitar a leitura,
sendo a tradução literal dos enunciados neerlandeses dada entre parênteses rectos, sempre que
necessário. Para além dos conceitos de vida e de morte/morto optámos, como já se referiu, por
seleccionar também enunciados registados nos verbetes viver e morrer por se incluírem no
mesmo universo conceptual que vida e morte.
Fig. 1. Fraseologismos portugueses no volume Português-Neerlandês ligados ao conceito
vida (incluindo viver)
Fraseologismo Verbete Fraseologismo equivalente Paráfrase
base igual base diferente
1 <à boa vida> vida 2) in ledigheid
[sem fazer nada]
2 vida 3) Vrouw die in
het leven zit
[mulher que está
na vida]
3 vida 3) hondenleven
4
vida 3) totdat de dood
[morte] ons
scheidt [até que a
morte nos separe]
5
vida 3) de pijp aan
Maarten geven
[dar a Maarten o
cachimbo]
6 <>
viver 5)
grande 5)
leven als God
in Frankrijk
[viver como Deus
em França]
4
Fig. 2. Fraseologismos neerlandeses no volume Neerlandês - Português ligados ao conceito
vida [leven] (incluindo viver [leven])
Fraseologismo Verbete Fraseologismo equivalente Paráfrase
base igual base diferente
1
[a (sua) vida está
pendurada num fio de
seda]
leven 3) tem a vida presa
por um fio
2
[em vida viva]
leven 4) em carne e osso
3 [roubar-se a
vida]
leven 3) suicidar-se
4
leven 4) nem só de pão
vive o homem
5 [quem
ainda viver que se
preocupe]
leven 4) quem cá fica que
se amole
6 [viver para algo]
leven 4) estar mortinho
para / por algo
Fig. 3. Fraseologismos portugueses no volume Português-Neerlandês ligados ao conceito
morte (incluindo morrer)
Fraseologismo Verbete Fraseologismo equivalente Paráfrase
base igual base diferente
1 <à beira da morte > morte 1) aan de rand van
het graf [à beira da
sepultura]
2
morte 1) het was doodstil
3 <>
morte 3) tobben, peinzen
[matutar,
pensar]
4
morte 3) op sterven na
dood zijn [só
falta morrer para
estar morto]
5
morte 3) een vreemde
dood sterven
[morrer de uma
morte estranha]
6
morto 3) zo dood als een
pier [tão morto
como um molhe]
5
Fig. 4. Fraseologismos neerlandeses no volume Neerlandês - Português ligados ao conceito
morte [dood] (incluindo morrer [dood gaan])
Fraseologismo Verbete Fraseologismo equivalente Paráfrase
base igual base diferente
1 [é a morte
ou os gladíolos]
dood 1) ou vai ou racha
2 [morrer mil
mortes]
dood 1) morrer de medo
3
[simples de morte]
doodeenvo
udig
óbvio
4 [morrer de
tristeza]
doodgaan morrer de
tristeza
5 doodlachen morrer de riso /
rir
6 [imperturbável como
a morte]
doodgemoe
dereerd 2)
a sangue frio
7 doodstil [silêncio de
morte]
em silêncio
absoluto
Breve leitura das figuras.
Construíram-se figuras de 6 colunas, sendo as 3 últimas dedicadas às possíveis soluções no
processo de atribuição de um equivalente. A segunda coluna oferece a UFR e a negrito
indica-se sob que constituinte a UFR aparece registada no dicionário. A terceira coluna
esclarece em que verbete a UFR está registada, isto é, se no primeiro, no segundo ou em
outro.
A diferente estrutura das duas línguas em contraste está ilustrada na fig. 4, sobretudo através
dos FRAs 3, 5, 6 e 7; estes, devido ao seu processo de formação (justaposição), recebem uma
entrada própria no dicionário enquanto um segmento como o equivalente português do FRA
7 da fig. 4 se regista no interior dos verbetes ‘silêncio’ ou ‘morte’.
Em qualquer dos quadros foi necessário recorrer às perífrases, devido à não existência (ou
desconhecimento do redactor) de uma UFR equivalente. Alguns enunciados (fig.1: 2 e 3;
fig.2: 1 e 4; fig. 3: 2 e fig. 4: 4, 5 e 7) encontraram na língua alvo equivalência sob a forma de
fraseologia assente no mesmo conceito, diferindo alguns apenas na estrutura (morfo-sintática)
com o seria de esperar; entre estes últimos encontram-se : fig 1: 3; fig. 3 : 2; fig. 4: 5 e 7.
Constata-se igualmente nos enunciados apresentados que o conteúdo semântico do FRA
provém da combinação dos seus componentes e que o conteúdo semântico da palavra se gera
no eixo sintagmático, isto é, resulta dos seus co-ocorrentes (Cruse, 1986). Os enunciados de
origem clássica ou bíblica como o número 4 da fig. 2 não oferecem geralmente dificuldade e
recebem invariavelmente um equivalente também de cariz bíblico. As UFRs ‘pensar na morte
da bezerra’, ‘morrer de morte macaca’, ‘morrer de morte matada’ ou ‘morrer de morte
morrida’, ‘het is de dood of de gladiolen’ [é a morte ou os gladíolos], ‘de pijp aan Maarten
geven’ [dar a Maarten o cachimbo], devido ao seu carácter bizarro e até insólito, dificilmente
6
encontram um equivalente ao mesmo nível, devendo nesse sentido receber uma paráfrase que
lhes clarifique o sentido.
4. Reflexões finais
Do exposto pode concluir-se:
1- que é no enunciado fraseológico que o conteúdo semântico das palavras se produz e melhor
ilustra.
2- que o registo de UFRs no dicionário monolingue ou bilingue, pedagógico ou não, é
essencial para se apreender as especificidades linguísticas (semânticas e estruturais) e ainda
culturais dos sistemas que representam.
3- que o objectivo do lexicógrafo será encontrar um equivalente semântico do segmento a
traduzir para a língua alvo e nunca dar uma tradução palavra a palavra, para não correr o risco
de desvirtuar a sua mensagem.
4- que apesar de o português e o neerlandês serem geneticamente distintos se encontram
bastantes semelhanças, não ao nível da estrutura linguística, mas ao nível do universo
conceptual em volta da ‘vida’ e da ‘morte’.
5. Referências
AUGUSTO, Maria Celeste / ECK, Karolien van. Grote Woordenboek Portugees-Nederlands en
Nederlands-Portugees. Utrecht: Spectrum / Lisboa: Verbo, 2004.
AUGUSTO, Maria Celeste. Phraséologies de l’oeil en portugais et en néerlandais dans un cadre
lexico-sémantique - une approche contrastive. In: Proceedings of the International
Conference Europhras 2008. Helsinki, (no prelo).
CORPAS PASTOR, Gloria. Diez años de investigación en fraseología: Análisis sintácticosemánticos,
contrastivos y traductológicos. Madrid: Iberoamericana / Frankfurt am Main:
Vervuert, 2003.
CRUSE, David Alan. Lexical Semantics. Cambridge: University Press, 1986.
DOBROVOL’SKIJ, Dmitrij, Russian and German Idioms from a Contrastive Perspective. In:
WEIGAND, Edda (Org.). Contrastive Lexical Semantics. Amsterdam: John Benjamin’s, 1998.
p. 227-242.
FISIAK, Jacek (Org.). Theoretical Issues in Contrastive Linguistics. Amsterdam: John
Benjamin’s, 1980.
FISIAK, Jacek (Org.). Contrastive Linguistics – Prospectsand Problems. Amsterdam: Mouton
Publishers, 1984.
FRASER, B.L. Beyond definition: organizing semantic information in bilingual dictionaries.
In: International Journal of Lexicography, v. 21, n.1, p. 69-93. 2008.
MALMKJAER, Kirsten. Contrastive Linguistics and Translation Studies: Interface and
Diffferences. Utrecht: Platform Vertalen & Vertaalwetenschap, 1999.
MOON, Rosamund. Sinclair, Phraseology and Lexicography. International Journal of
Lexicography, v. 21, n. 3, p. 243-254. 2008.
WILLIAMS, Geoffrey. A Multilingual Matter: Sinclair and the Bilingual Dictionary.
International Journal of Lexicography, v. 21, n.3, p. 255-266. 2008.
7
Anexos: excertos de verbetes
Português / Neerlandês
vida 1 nf 1. Biol leven (het); em vida in leven 2. leven (het); esperança de vida
levensverwachting (de); como vai a vida? hoe staat het leven?; 4. levensonderhoud (het); a vida está cada vez mais cara het leven wordt steeds
duurder 7. levendigheid (de); sem vida lusteloos,
levenloos; criança cheia de vida levendig kind.
vida 2 loc adv 1. à boa vida in ledigheid 2. em vida, ninguém lhe ligou toen hij nog leefde,
nam niemand notie van hem 3. sem vida levenloos.
vida 4 idioom; vida fácil onbezorgd leventje; mulher da vida vrouw die in het leven zit;
cair/estar/andar na má vida op het slechte pad raken/zijn; vida de cão hondenleven (het); feliz
/ contente da vida blij en tevreden; para a vida e para a morte totdat de dood ons scheidt;
entre a vida e a morte op het randje van de dood; andar na sua vida in zijn eigen wereldje
leven; sinal de vida teken van leven, levensteken (het); levar boa vida een goed/makkelijk
leventje hebben/leiden; ter uma boa vida een goed leventje hebben; nunca na vida! nooit van
mijn leven!; (uma luta) de vida ou de morte (een gevecht/strijd) op leven en dood; tem a vida
presa por um fio zijn leven hangt aan een zijden draadje; fazer a vida negra a alguém iemand
het leven zuur/tot een hel maken; uma vida regalada een leven als een luis op een zeer hoofd,
een luizenleventje; ir desta vida p'ra melhor de pijp aan Maarten geven, de pijp uitgaan
morte 1 nf 1. Biol dood (de), sterfte (de) 2. morrer de morte natural
een natuurlijke dood sterven; à beira da morte aan de rand van het graf, op stervens na
dood; dia da morte sterfdag (de) 3. dood (de); 5. dood (de); campanha contra a morte das focas actie tegen het slachten van
zeehonden 6. Literat Mitol o Anjo da Morte de engel des doods 7. fig
aquilo foi a morte dos seus sonhos dat was het einde van haar dromen 8. fig assiste-se à morte do sector agrícola men is getuige van de afbraak van de
agrarische sector 9. fig havia ali um silêncio de morte het
was er doodstil.
morte 2 loc adv 1. de morte dodelijk 2. para a vida e para a morte voor het leven, voor altijd.
morte 3 idioom; estar às portas da morte op sterven liggen, op sterven na dood zijn; estar
entre a vida e a morte tussen leven en dood zweven; libertar-se da lei da morte zich aan
vergetelheid onttrekken; cismar / pensar na morte da bezerra fam tobben, peinzen; estar
pela(s) hora(s) da morte vreselijk duur zijn; ser a morte do artista de doodsteek geven; ser
caso de vida ou de morte een geval van leven of dood; ter a morte de / por perto met de
dood op je gezicht lopen; ver a morte diante de si de dood onder ogen zien, oog in oog met
de dood staan; dormir o sono da morte in het graf liggen; ter um ódio de morte een
dodelijke hekel/haat hebben aan; morrer de morte macaca een vreemde dood sterven; ter
uma morte santa een zachte dood sterven; ter uma morte lenta een langzame dood sterven;
ser um morto em pé een slome duikelaar zijn; morrer de morte matada fam een
gewelddadige dood sterven; morrer de morte morrida een natuurlijke dood sterven.
Neerlandês / Português
8
leven 1 v tr (h) 1. viver; geleefd worden não ser senhor da sua vida.
leven 2 n (het) 1. vida (f), actividade (f); het volle leven a vida real 2.
barulho (m); leven in de brouwerij brengen dar animação a, animar-se; een leven
als een oordeel um barulho infernal, um barulho dos diabos/infernal/ensurdecedor; een
leven dat horen en zien je vergaan um barulho infernal, um barulho de morrer.
leven 3 n (het;-s) 1. vida (f), existência (f); nog in leven zijn ainda
estar vivo; in leven em vida; in leven blijven sobreviver, continuar a viver, manter-se em
vida; losbandig leven leiden levar uma vida desregrada/libertina; hoe staat het leven? como
vai a vida?; je geld of je leven! a bolsa ou a vida!; iemand om het leven brengen matar
alguém; nooit van mijn leven! nunca na (minha) vida!; (een gevecht/strijd) op leven en
dood (uma luta) de vida ou de morte; zijn lust en zijn leven ser a alegria da vida de alguém;
zijn leven hangt aan een zijden draadje tem a vida presa por um fio; dat is toch geen leven!
isso não é vida!; zolang er leven is, is er hoop enquanto há vida há esperança; het leven
schenken aan een kind dar uma criança à luz; geen teken van leven meer geven já não dar
sinal de vida; het leven erbij inschieten perder a vida; je doet er je hele leven mee dura-te a
vida toda; het leven wordt steeds duurder a vida está cada vez mais cara; voor iemands
leven vrezen temer pela vida de alguém; iemand het leven tot een hel maken fazer a vida
negra a alguém; vrienden voor het leven amigos para a vida/sempre; zich van het leven
beroven suicidar-se; in het leven zitten ser prostituta, andar na má vida.
leven 4 vi (h) 1. viver; hoe laat leven we? inf. scherts. que horas são?; leve de
koningin! viva a Rainha!; van zijn lang zal ze leven niet! inf. nunca na vida!; in levende
lijve em carne e osso; wie dan leeft wie dan zorgt quem cá fica, que se amole, quem vier
depois de mim que feche a porta 3. leven op water en brood viver
a/de pão e água; een mens leeft niet van brood alleen nem só de pão vive o Homem 4.
viver; in angst leven viver com medo;; voor iets/iemand leven viver
para algo/alguém;; ergens naartoe leven estar mortinho para/por algo, estar desejoso que
aconteça algo; leven en laten leven viver e deixar viver.
levend adj/adv (meer/meest) vivo.
levenloos 2 adj/adv 1. morto (adj), sem vida.
levensbelang n (het); van levensbelang zijn ser de vital importância.
levensgevaar n (het) perigo de morte, perigo de vida; in/buiten levensgevaar em/fora de
perigo de vida; in levensgevaar verkeren estar em perigo de vida.
levenslang 1 n 1. prisão perpétua; levenslang krijgen ser
condenado a prisão perpétua.
levenslang 2 adj/adv 1. vitalício (adj), perpétuo (adj), por toda a vida,
perpetuamente (adv); veroordeeld worden tot levenslange gevangenisstraf ser condenado a
prisão perpétua.
dood 1 n (de) 1. morte (f); iemand ter dood brengen
executar a pena de morte; de dood vinden encontrar a morte; het is de dood of de gladiolen
ou vai ou racha; de dood voor ogen hebben ver a morte de perto, ver a morte diante de si;
aan de dood ontsnappen escapar à morte; ten dode opgeschreven zijn estar condenado à
morte; het is daar de dood in de pot ali morre-se de tédio; duizend doden sterven morrer de
medo; als de dood zijn voor morrer de medo de.
dood 2 adj 1. morto (adj); voor dood blijven liggen ficar (deitado) a fazer de
morto; half dood zijn van de kou estar morto de frio; meer dood dan levend mais morto que
vivo; dood gaan van de kou estar a morrer de frio.
doodeenvoudig adj/adv óbvio (adj), simplicíssimo (adj).
doodgaan vi (z; ging dood; doodgegaan) morrer, falecer; doodgaan aan kanker morrer de
9
cancro; doodgaan van honger/verdriet morrer de fome/tristeza.
doodgemoedereerd 2 adv 1. impassivelmente (adv),
imperturbavelmente (adv), a sangue-frio.
doodgewoon 2 adv 1. simplesmente (adv), pura e
simplesmente.
doodlachen v refl (h; lachte dood; doodgelachen) morrer a rir, morrer de riso.
doodmoe adj/adv exausto (adj), muito cansado; ergens doodmoe van worden estar cansado de
algo, ficar farto de algo.
doodnormaal adj/adv normalíssimo (adj), vulgaríssimo (adj).
doodsbang adj apavorado (adj), morto de medo; doodsbang voor spinnen/ziektes zijn ter
muito medo de aranhões/doenças.
doodsbenauwd  doodsbang.
doodsbleek adj da cor da/como a cal (da parede).
doodschamen v refl (h) envergonhar-se muito, morrer de vergonha; zich doodschamen
over/voor iets envergonhar-se muito de algo.
doodschrikken v refl (z; schrok dood; doodgeshrokken) morrer de susto.
doodstil adj/adv quietíssimo (adj), imóvel (adj),
silencioso (adj), em silêncio absoluto, silenciosamente (adv).
doodvallen vi (z; viel dood; doodgevallen) 1. inf. cair morto; val
dood! bel. vai-te lixar!; ik mag doodvallen (als het niet waar is) que eu caia aqui morto (se
não for verdade).
doodziek adj muito doente, doentíssimo (adj).


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